"Eternos
Românticos"
Eternos Românticos, assim se definem os
escritores e artistas que, no começo do
Século XIX, abandonaram as regras de composição e estilo dos autores
clássicos.
Caracterizam-se
pela predominância da sensibilidade e da imaginação sobre a razão, pelo
individualismo, pelo lirismo.”
O
que nos leva a concluir que quase todos os artistas, quaisquer que sejam os
tempos e as escolas, são ou foram românticos.
Daí
podemos também concluir que o romantismo, não é apenas uma escola literária,
mas um estado de espírito.
Românticos
foram, através dos tempos, e muito antes do Século XIX, as mais altas
expressões das letras e das artes.
O
homem hoje parece que se envergonha de ser romântico, ou de ser tido como tal.
Como se isto fosse um atestado de doença ou de fraqueza.
Mas
embora se pense deste modo nós continuaremos românticos, graças a Deus.
Há
algumas pessoas que ao ler um texto poético identifica o autor como o ultimo
romântico
Puro
engano.
O
mundo continua, e seguirá povoado por essa espécie imortal para que a arte
sobreviva.
Dizem
que o romântico é um fraco.
Mas
“o romântico é um forte”.
E
por quê?
Justamente
porque fortes são os que têm a capacidade de sentir.
E
o romântico é o emotivo, o sentimental, o que expõe o coração.
Só
ele enriquece a vida com as perspectivas infinitas do sentimento e da fantasia.
Os
frios, os indiferentes, os “materialistas” num sentido puramente social, são os
fracos, os temerosos, e, são, portanto, os que não vivem plenamente.
Já
os românticos são os que enfunam as velas do sonho e se atiram a todas as
correntes. Muitas vezes sofrem.
Mas
para eles, vida e sofrimento são palavras que se equivalem, que se identificam.
Sabem
que o temor ao sofrimento são conseqüências da tentativa de ser feliz.
São
os que não têm medo, portanto, os que se aventuram.
Os
que captam a vida em todas as direções, embora feridos, angustiados. Os que não
se envergonham de chorar.
Dizem
que hoje que o mundo de hoje é um mundo de homens de ferro, duros, insensíveis.
Como se isto fosse vantagem, ou, que isso seja verdade.
Pura
mentira!!!
Se
ontem, as armaduras de ferro dos cavaleiros medievais escondiam corações
inflamados de ternura florais, de anseios cavalheirescos, hoje, as pesadas
roupas dos astronautas protegem igualmente corações cheios de amor e poesia.
Todos
nós lemos as declarações dos astronautas ao voltarem do espaço sideral.
Eram
falas de poetas, deslumbrados com o espetáculo novo de um universo imprevisto.
Um
deles, o primeiro, declarou de sua cápsula: o mundo é azul!
Que
eles são, mesmo, os poetas do espaço. Hoje, eu diria que até a ciência é
romântica: ainda à procura da lua dos poetas e dos namorados.
Os
jogadores de futebol, que representam homens de um esporte viril, após as
grandes vitórias, ou as fragosas derrotas, desmandam-se a chorar, como bebês. E
que de estranho há nisso? São, e continuam sendo apenas homens, como os de
todas as épocas, quando inflamados ou aterrados pelas emoções violentas. Choram
políticos, choram generais, choram artistas. Na televisão, assistimos todos os
dias ao espetáculo dos que desgovernam pelo coração, e são por isso sublimes ou
heróicos.
Falsa,
inteiramente ilusória, a afirmativa apresentada e superficial, de que deixamos
de ser românticos.
Sim, o mundo gira, o mundo se transforma, mas
o homem continua o mesmo: Macbeth, Otelo, Romeu ou D. Quixote. O coração
continua a ser aquele ponto inevitável sobre o qual se apóia uma das pontas do
compasso para traçar as figurações e planos.
Analise
junto comigo, e vera como estou certo.
Lembra-se
da Jovem Guarda? Os moços do iê-iê-iê,
até na aparência são românticos. Restauraram as formas de trajar, os exageros
requintados de outras épocas.
Quando
os vemos, nos lembramos dos poetas do fim do século, de cabelos longos, roupas
enfeitadas. Sua música, aparentemente “avançada”, trouxe apenas novidades
rítmicas, mas o fundo melódico e as letras traem o eterno romantismo.
E o “slogan” dos “hippies”: “The Flower’s
power”. Uma
geração que faz da flor o seu símbolo, o seu estandarte, a sua mensagem de paz
e amor, não é uma geração romântica?
O
dicionário completa o verbete: ser romântico é ser “devaneador, poético,
apaixonado”. Então, somos todos nós. “Quem não for capaz de sonhar, de
encontrar belezas, de amar”, “só passou pela vida, não viveu”, como diria o
velho Otaviano Rosa.
Dentro
do homem mais seco, e empedernido, do espírito mais cético e pragmático, do
filosofo mais materialista, há um cérebro e um coração, para pensar e para
sentir.
E
naqueles momentos de coração que salvam a nossa vida, somos todos românticos.
O
operário que bota tijolo em cima de tijolo, o dia todo, à noite vira poeta
diante do mar, em companhia da namorada; a mocinha do balcão que vendeu
qualquer coisa, ou o do escritório que bateu faturas, vai depois copiar poesias
em seu caderno; o cronista engraçado que se compraz em ridicularizar boleros,
vai cantar tangos na boate, depois da terceira dose de uísque; o motorista, que
transporta cargas pelos caminhos, faz poesia e humor nos pára-choques do seu
caminhão.
Por
muitas razoes, usamos máscara trezentos e sessenta dias, e só as tiramos às
vezes, no carnaval.
Há
homens que se envergonham de ter coração, o que é grave; procuram esconde-lo, o
que é tolo; tentem negá-lo, o que é absurdo. Salvam-se alguns poetas (façam
versos ou não) que têm coragem de permanecer poetas, num mundo que pretende
negar a poesia, e que tanto precisa dela. Alguns poetas, que, corajosamente não
usam máscaras, continuam falando de amor, como os velhos cristãos ou como... os
“hippies”...
Crônicas de JG de Araujo Jorge
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